quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Osho, sobre a espontaneidade..


Quando age, você sempre toma por base o passado. Você vive de acordo com 
as experiências que acumulou, age com base nas conclusões a que chegou no 
passado — como pode ser espontâneo?
O passado domina e por causa dele você nem sequer consegue ver o presente. 
A neblina do passado é tão espessa que é impossível enxergar alguma coisa
O homem instruído é a criatura mais cega deste mundo. Porque ele vive com 
base nos conhecimentos que tem, em vez de avaliar as circunstâncias. Ele 
simplesmente continua vivendo mecanicamente. Aprendeu alguma coisa; isso 
passa a ser um mecanismo embutido dentro dele e ele age de acordo com isso.

Há aquela história que diz...
Existiam dois templos inimigos no Japão. 
 Os sacerdotes desses dois templos eram 
tão hostis um ao outro que nem sequer
olhavam-se no rosto. Haviam séculos 
que os sacerdote desses dois templos 
não se falavam. 
Ambos tinham um garotinho para servi-los
e eles tinham receio de que os garotos, 
afinal eram só garotos, pudessem ficar 
amigos.
Um dos sacerdotes disse ao seu menino: — Nunca se esqueça de que o outro 
templo é nosso inimigo. Nunca fale com o garoto do outro templo. Eles são 
gente perigosa... 
O garoto ficou curioso... não havia ninguém com quem brincar, ninguém 
com quem conversar e ele já estava cansado de ouvir longos sermões e não
conseguia entendê-los. Os sacerdotes liam escrituras estranhas, 
ele não compreendia aqueles problemas profundos, existenciais que eram 
discutidos. Não havia ninguém com quem brincar, ninguém com quem 
conversar e quando lhe diziam para não falar com o menino do outro templo, 
uma grande tentação brotava dentro dele. É assim que surge a tentação. Nesse 
dia ele não conseguiu evitar de falar com o outro menino. 
Quando o viu na rua, ele perguntou: — Aonde você está indo?
O outro menino era um tanto filosófico; de ouvir grandes filosofias ele ficara 
filosófico. Respondeu: 
— Indo? Não há ninguém que venha ou que vá! Isso acontece... para onde quer
 que o vento me leve... — Ele tinha ouvido o mestre tantas vezes que era 
assim que vivia um buda, como uma folha morta, eguindo ao sabor do vento. 
Então o menino disse: 
— Eu não sou nada! Não existe ninguém que faça algo, então como posso ir a 
algum lugar? Que bobagem é essa que você está falando? Sou uma folha morta.
Vou para onde quer que o vento me leve... 
O outro menino encarava-o sem entender nada. Não conseguiu sequer 
articular uma resposta.  Estava de fato embaraçado, envergonhado, e 
pensava: "Meu mestre tinha razão ao aconselhar-me a não falar com essa gente,
que conversa é essa? Só perguntei para onde ele ia. Na verdade, eu até já sabia
para onde ele estava indo, pois nós dois íamos para o mercado comprar 
hortaliças. Bastaria dizer isso."
O menino voltou ao templo e contou ao mestre: 
— Me perdoe. Você me proibiu,mas eu o desobedeci. Na verdade, sua proibição
aguçou minha curiosidade. Essa é a primeira vez que converso com aquela gente
perigosa. Só fiz uma pergunta: "Aonde você vai?" e ele começou a dizer umas 
coisas estranhas: "Não existe ir nem vir... Quem vem? Quem vai? Sou o vazio 
absoluto", ele disse, "sou uma folha morta. E aonde quer que o vento me leve..."
O mestre disse: 
— Eu disse a você! Agora, amanhã fique no mesmo lugar e, quando ele passar, 
pergunte a ele novamente e quando ele disser essas coisas, você diz 
simplesmente: "É verdade. Você é uma folha morta, assim como eu. Mas, 
quando o vento não está soprando, para onde você vai? Aonde pode ir?" Só diga
isso, e ele ficará embaraçadoEstamos sempre discutindo e essa gente nunca
conseguiu nos vencer em nenhum debate. Então amanhã não será diferente!
O garoto acordou cedo, decorou sua resposta, repetiu-a muitas vezes antes de 
sair. Então ficou esperando no local onde o outro atravessaria a rua, repetindo 
mentalmente a resposta até avistar o garoto se aproximando. 
O menino chegou mais perto e o outro perguntou: 
— Aonde está indo? —, com esperança de que agora ele teria sua chance..
Mas o rapazinho disse:
 — Aonde quer que as pernas me levem... — não mencionou nenhum vento, 
não falou do vazio, nem da questão do não-fazer... E agora, o que ele faria?
A resposta que decorara não ia fazer sentido. Não podia falar sobre o vento. 
Desacorçoado, com vergonha por ser tão burro, ele pensou: 
"Esse menino de fato sabe umas coisas estranhas. Então ele voltou a procurar 
o mestre. Este respondeu: 
— Eu disse para não falar com essa gente! Eles são perigosos! Faz séculos que 
sabemos disso. Mas agora é preciso fazer alguma coisa. Amanhã, você pergunta 
novamente: "Aonde está indo?" e, quando ele disser: "Aonde quer que minhas 
pernas me levem", diga a ele: "Se você não tem pernas, então...?" É preciso 
fazê-lo calar a boca de um jeito ou de outro. 
Então, no dia seguinte, o menino perguntou outra vez onde o outro ia e esperou
a resposta. O outro disse: — Estou indo ao mercado buscar hortaliças.

As pessoas costumam viver com base no passado — e a vida continua em
constante mudança.
A vida não tem obrigação nenhuma de confirmar suas conclusões. É por isso
que ela é tão confusa — confusa para a pessoa instruída.
A pessoa já tem todas as respostas prontas, o Bhagavad Gita, o Alcorão, a Bíblia,
os Vedas. Já se abarrotou de tudo isso, sabe todas as respostas. Mas a vida 
nunca levanta as mesmas questões; por isso a pessoa instruída nunca acerta 
o alvo.

Muito Obrigada!
Stefania Bianchi


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